A saúde sempre foi a razão da minha vida. Por isso, me tornei médico. E quando me percebi um ator da vida política, finquei essa bandeira – da saúde pública – por todos os lugares em que passei. O que não esperava, é verdade, seria enfrentar a maior crise sanitária da história da humanidade. A pandemia virou de cabeça para baixo a realidade de todos nós, colocou à prova a estrutura hospitalar, matou milhares. Eu, inclusive, fui sobrevivente nesta guerra invisível que vivemos todos.
Sou autor do PL 5413/19, recentemente aprovado na Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara dos Deputados. E agora luto pela sua total aprovação e sanção. Pois, esse projeto ajuda milhares de brasileiros que precisam de atendimento médico. O texto garante aos hospitais em crise pagar até 90% da dívida com a União em serviços gratuitos para população.
Além disso, o PL é fundamental, uma vez que os estabelecimentos precisarão de um amparo pós pandemia, para manter desde uma estrutura adequada, até o trabalho dos profissionais e acesso aos pacientes. E assim, estamos lutando pela retomada.
Sim, precisamos falar disso.
É natural que, ao falarmos em retomada de vida, a primeira coisa que nos venha à mente seja a recuperação da economia e do emprego. Afinal de contas, são quase 15 milhões de brasileiros em busca de trabalho e de esperança. Essa, sem dúvida nenhuma, precisa ser uma prioridade. Mas falar em superação da pandemia precisa ser acompanhada de um olhar mais amplo e atento —que vá além do binômio vacina-emprego —, pois o impacto social da doença esparrama-se por todas as dimensões da vida.
Ainda que milhares de brasileiros estejam em recuperação, muitos dos efeitos da Covid-19 deixam sequelas. Estima-se que 80% dos contaminados persistam com sintomas como fadiga, dificuldade de atenção e falta de ar. Além disso, há também prejuízo às funções motoras, respiratórias, hematológicas e circulatórias em pacientes que estiveram internados por longos períodos. Somados aos desafios que já eram cotidianos, o SUS e o sistema privado serão cada vez mais postos à prova.
A lista de desafios é imensa e não para de crescer. A retomada definitiva será possível apenas se dermos conta dessa complexidade econômica e social. Somos mais de 200 milhões de brasileiros — e nenhum deles deve ser abandonado pelo caminho.
Sim, façamos a necessária retomada econômica. Mas temos de reforçar o sistema de saúde, sobretudo na atenção primária e, também, investindo em inovações como a telemedicina, ampliando e qualificando o atendimento. Na educação, o ensino híbrido veio para ficar — e a retomada deve contemplar qualificação tecnológica e democratização do acesso à internet.
Temos, também, de permitir que os brasileiros em vulnerabilidade retomem a esperança de um futuro melhor. A vida não será mais como antes. Mas podemos atingir a normalidade adaptada aos novos tempos. Para isso, temos de olhar para todos os setores e atores do país. Com sensibilidade, unidade e a visão de que somos uma só nação, acima de bandeiras e ideologias. Sejamos, mais do que nunca, todos por todos.
Vice-presidente da Confederação Nacional de Saúde e Deputado federal (Progressistas-RS)